É Muidinga que chora. O velho se levanta e zanga:
- Pára de chorar!
- É que me dói uma tristeza...
(...)
A guerra é uma cobra que usa os nossos próprios dentes para nos morder.
... eu e o meu passado dormimos em tempos alternados, um apeado enquanto o outro segue viagem.
Afinal, nasci num tempo em que o tempo não acontece!
Quem constrói a casa não é quem a ergueu mas quem nela mora.
... comidas (...) dos olhos salivarem na língua.
... ele que me levasse fora, ou aquilo ficaria matéria não de papo mas de sopapo.
Ter pátria é (...) saber que vale a pena chorar.
- Não gosto de pretos (...)
- Dos brancos?
- Também não (...)
- Eu gosto de homens que não tem raça.
… os bandos tem serviço de matar. Os soldados tem serviço de não morrer. Nós somos o chão de uns e o tapete dos outros.
O problema não é o lugar, (…) mas o caminho.
… havia duas maneiras de partir: uma era ir embora, outra era enlouquecer. Meu pai escolhera os dois caminhos, um pé na doideira de partir, outro na loucura de ficar.
… ir pelo mar, caminhar no último lábio de terra, onde a água faz sede e a areia não guarda nenhuma pegada.
O respirar dos adormecidos é um ruído que inquieta.
- Pai, a terra não envelhece. É porquê?
- É porque trabalha deitada. Quando cansa ela já está em sua esteira, quieta no sono dela.
Você engole com força. É, engole saliva, faz conta está entrar comida na garganta. A fome fica confusa, assim.
- Vai-se ou não-se?
… sobrava comida que daria para salvar filhos, mães e uma africandade de parentes.
… o segredar da morte, essa infatigável coscuvilheira.
… não inventaram ainda uma pólvora suave, maneirosa, capaz de explodir os homens sem lhes matar. Uma pólvora que, em avessos serviços, gerasse mais vida.
A tia dizia coisas sem pés na cabeça.
Seria preciso esperar séculos para que cada homem fosse visto sem o peso da sua raça.
A morte (…) é uma corda que nos amarra as veias. O nó está lá desde que nascemos. O tempo vai esticando as pontas da corda, nos estancando pouco a pouco.
Do menos o mal: afinal, grão a grão o papa se enche de galinhas.
… em terra de cego quem tem um olho fica sem ele.
… em meio da vida sempre se faz a inexistente conta: temos mais ontens ou mais amanhãs?
… numa dessas situações em que nem a água é mole nem a pedra é dura.
… no triste jeito com que a liberdade fita os olhos dos prisioneiros.
Sem comentários:
Enviar um comentário