20131209

O Tigre Branco, Aravind Adiga

Este livro é uma obra de ficção. todos os nomes, personagens, locais e acontecimentos são ou fruto da imaginação do autor, ou usados de forma fictícia. qualquer eventual semelhança com acontecimentos, locais e pessoas, vivas ou falecidas, não passa de mera coincidência.

... a fazer-lhe namastés diante duma câmara de televisão e a assegurarem-lhe de que a Índia é santa e virtuosa, não me consigo conter de dizer aquilo...

... vocês, os chineses, encontram-se muito adiantados em relação a nós... à excepção do facto de não terem empresários. E a nossa nação, apesar de não ter água potável, nem electricidade, nem sistema de esgotos, nem transportes públicos, nem regras de higiene, nem disciplina, nem boas maneiras, nem pontualidade, verdade seja dita que empresários não lhe faltam.

Só há três nações que nunca permitiram que os estrangeiros as governassem: a China, o Afeganistão e a Abissínia. São as três únicas nações que eu admiro.
Por uma questão de respeito pelo amor à liberdade demonstrado por parte do povo chinês, e também na convicção de que o futuro do mundo cabe ao homem amarelo e ao homem castanho, agora que o nosso amo de outrora, o homem de pele branca, definhou devido à prática de sodomia e à utilização abusiva de telemóveis e de drogas, prontifico-me a contar-lhe, livre de quaisquer custos adicionais, a verdade a respeito de Bangalore.

Sei de cor as palavras dos quatro maiores poetas de todos os tempos - Rumi, Iqbal, Mirza Ghalib e um quarto indivíduo cujo nome de momento não me vem à memória.

Actualmente, já não vejo filmes hindus — por uma questão de princípio —, mas, nos tempos em que tinha esse hábito, mesmo antes de o filme começar, ou o número 786 aparecia subitamente no ecrã — os muçulmanos estão convencidos de que se trata dum número mágico que representa o deus deles —, ou então víamos a imagem duma mulher vestida com um sari branco com libras de ouro a pingarem-lhe para os pés, que é a deusa Lakshmi, dos hindus.
É um costume ancestral e venerado do meu povo começar a contar uma história dirigindo uma prece a um Poder Divino.
Calculo, Vossa Excelência, que também seria boa ideia se eu começasse por lamber o cu dum deus qualquer.
Mas o cu de que deus, pergunto-me eu? O sortido é tão variado.
Sabe, os muçulmanos têm um único deus.
Os cristãos têm três deuses.
E nós, os hindus, temos 36 000 000 de deuses.
O que perfaz um total de 36 000 004 cus divinos por onde eu escolher.
Bem sei que há pessoas, e não me estou a referir apenas a comunistas como o senhor, mas a pensadores de todos os partidos políticos, que julgam que a maioria destes deuses não existe deveras. Há até alguns que estão convencidos de que nenhum deles existe. Só existimos nós e um oceano de escuridão à nossa volta. Mas eu, que estou longe de ser filósofo ou poeta, como poderei saber a verdade? É um facto que estes deuses, apesar de pouco ou nada fazerem — muito à semelhança dos nossos políticos —, todos os anos são reeleitos para os tronos dourados do céu. Não quero com isto dizer, senhor primeiro-ministro, que
eu não os respeite! Nunca permita que esta ideia blasfema se inculque no seu espírito amarelo. O meu país é do género em que fazer jogo duplo compensa: o empresário indiano tem de ser em simultâneo honesto e trapaceiro, trocista e ingénuo, matreiro e sincero.

Eu e milhares de outros indianos como eu somos mal-amanhados, porque nunca tivemos oportunidade de concluir a nossa instrução.
Abra-nos a cabeça, vasculhe-a com uma lanterna de bolso e irá encontrar um museu de ideias raras: sentenças de história e de matemática retiradas de antigos manuais escolares (não há rapaz que se lembre
melhor do que aprendeu na escola que aquele que tenha sido obrigado a abandoná-la, isso posso desde já garantir-lhe), frases sobre política lidas num jornal enquanto esperava pela chegada de alguém a um gabinete, triângulos e pirâmides vistos em páginas rasgadas de velhos manuais de geometria que todas as casas de chá deste país usam para embrulhar os lanches, fragmentos de boletins noticiosos da All India Radio, coisas que nos vêm parar à cabeça, como lagartixas caídas do tecto durante a meia hora que demoramos a adormecer — todas estas ideias, meio alinhavadas, meio digeridas e meio correctas se misturam com outras ideias mal-alinhavadas na nossa cabeça, onde, imagino, se enrabem todas umas às outras e formem novas ideias mal-alinhavadas, e é com base nelas que agimos e vivemos.
A história da minha educação é a história de como se cria um tipo mal-amanhado.
Mas preste atenção, senhor primeiro-ministro! Os fulanos bem-amanhados, com onze anos de escola e três de universidade, usam belos fatos, entram para empresas e ficam até ao fim da vida a receber ordens doutros homens.
Os empresários são feitos de barro mal-amanhado.

... aconselho-o a não mergulhar no Ganges, a menos que queira ficar com a boca cheia de fezes, de palha, de bocados encharcados de cadáveres humanos, de carne putrefacta de búfalo, para além de sete tipos diferentes de ácidos industriais.

O corpo da minha mãe tinha sido embrulhado dos pés à cabeça numa seda cor de açafrão, coberta de pétalas de rosas e de grinaldas de jasmim. Estou em crer que nunca na vida, ela usou nada tão bonito. (O funeral dela foi tão grandioso que eu percebi de imediato que a sua vida deveria ter sido miserável...)

(Pois esta terra, a Índia, nunca foi livre. Primeiro foram os muçulmanos a mandar em nós, depois os ingleses. Em 1947, os ingleses foram-se embora, mas só um imbecil julgaria que desde então somos livres.)

A coluna vertebral do meu pai era corda cheia de nós, do género do das que as mulheres usam nas aldeias para tirar água dos poços; as clavículas descreviam uma curva em alto-relevo à volta do pescoço, como uma coleira de cão; golpes, incisões e cicatrizes, como pequenas marcas deixadas por um chicote, percorriam-lhe o peito e a cintura, chegando-lhe abaixo dos ossos da bacia até às nádegas.
A história dum homem pobre está-lhe escrita no corpo, com uma caneta de ponta aguçada.

bom, uma vez que eu duvido que haja condutores de riquexó na China - ou, já agora, em qualquer outra nação civilizada do mundo...
Insista em ir a Velha Deli... aí, verá as estradas apinhadas deles: homens magros como espetos, debruçados sobre o selim da bicicleta, enquanto pedalam arrastando atrás de si uma carruagem com uma pirâmide de carne da classe média lá dentro - um gordo qualquer com a gorda da mulher e respectivos sacos de compras e mercearias.
E quando vir aqueles espetos, lembre-se do meu pai.
O meu pai pode ter sido condutor de riquexó - uma besta de carga humana -, mas era um homem com um plano.

Toda a vida fui tratado como um macaco. O meu único desejo é que um filho meu... pelo menos um... viva como um homem.

Não tenho telemóvel por razões óbvias: corrompem o cérebro dum homem, atrofiam-lhe os tomates e secam-lhe o sémen todo, como toda a gente sabe.

Iqbal... escreveu um poema onde diz o seguinte a respeito dos escravos:
Eles permanecem escravos porque não são capazes de ver a beleza deste mundo.
...
Já reparou que os quatro maiores poeta do mundo são todos muçulmanos? E que, apesar disto, todos os muçulmanos com que nos cruzamos são ou analfabetos, ou andam tapados dos pés à cabeça com burcas pretas, ou à procura de prédios para fazer explodir? É um enigma, não lhe parece?

... assassinamos um homem e passamos a sentir-nos responsáveis pela sua vida - possessivos, até. Sabemos mais acerca dele que o próprio pai e a própria mãe; eles conheceram-lhe o feto, mas nós conhecemos-lhe o cadáver. Somos os únicos em condições de completar a história da sua vida; os únicos a saber por que motivo o seu corpo tem de ser empurrado para a pira antes da hora prevista e os dedos dos pés se encarquilham e se batem por mais um instante neste mundo.

... graças a todos aqueles políticos de Nova Deli, a 15 de Agosto de 1947 - no dia em que os ingleses partiram -, as gaiolas foram abertas-, e os animais atacaram-se e despedaçaram-se uns aos outros, e a lei da selva substituiu a lei do jardim zoológico.

... nos bons velhos tempos, havia mil castas e destinos na Índia. Hoje em dia, existem apenas duas catas: Homens de Barriga Grande e Homens de Barriga Pequena.
E apenas dois destinos: comer - ou ser comido.

... sabemos exactamente onde encontrá-los. (...) Eles tinham de saber onde encontrar a minha família, sempre.

... Por muito que lavemos as mãos depois de termos massajado os pés dum homem, o cheiro da sua pele velha e escamosa fica-nos agarrado às mãos o dia todo.

... a única coisa capaz de tirar o cheiro a pêlo de cão das mãos dum criado é o cheiro da pele do dono.

... como é que dois espécimes da humanidade tão distintos entre si poderiam ter sido produzidos pelo mesmo solo, a mesma luz do Sol, a mesma água?

O Kishan tinha muitas novidades para mim... E, visto que estávamos na Escuridão, eram apenas más notícias.

... terei de lhe falar da democracia; uma coisa com que, ao que me consta, vocês, chineses, não estão muito familiarizados.

Presumo que voçês, os homens de pele amarela, não obstante os êxitos alcançados em termos de sistema de esgotos, água potável e medalhas de ouro olímpicas, ainda não têm democracia. Ouvi um político dizer na rádio que é por isso que nós, os indianos, iremos suplantar-vos: podemos não ter sistema de esgotos, água potável nem medalhas de ouro olímpicas, mas não há dúvida de que temos democracia.

Não é fácil obter condenações quando os juízes têm de setenciar na Escuridão,...

Consta que o próprio Grande Socialista terá desviado mil milhões de rupias da Escuridão e transferido esse dinheiro para um pequeno e lindo país da Europa cheio de pessoas brancas e de dinheiro sujo.

Agora que a data das eleições foi marcada, e anunciada na rádio, a febre eleitoral começa novamente a alastrar. Eis as três piores doenças que assolam este país, meu senhor: a tifóide, a cólera e a febre eleitoral. Esta última é a mais grave; leva as pessoas a falarem sem parar de assuntos sobre os quais não têm voto na matéria.

Seriam eles capazes... de vencer as eleições? Teriam angariado fundos suficientes, e subornado polícias suficientes, e comprado impressões digitais suficientes para ganhar? A fazer lembrar eunucos a discutir o Kama Sutra, os votantes discutem as eleições em Laxmangarh.

... um latifundiário a inclinar-se perante o filho dum guardador de porcos! As maravilhas da democracia!

- O principal a saber sobre Deli é que as estradas são boas, mas que as pessoas são más. Os polícias são podres de corruptos.

Enquanto eu escovava os dedos com o dedo, reparei no que a minha mão esquerda estava a fazer: tinha deslizado para entre as minhas pernas sem eu dar por isso - como um lagarto corre furtivamente por uma parede abaixo - e já se preparava para começar a coçar.
Deixei-me ficar à espera. Mal ela se mexeu, agarreia-a com a mão direita.
Belisquei a pela grossa entre o polegar e o indicador, onde dói mais, e segurei-a assim durante um minuto. Quando a larguei, formara-se um vergão vermelho na pele da palma da minha mão.
«Bem feito.
Daqui em diante, sempre que te puseres a coçar os tomates, será este o teu castigo»
Na minha boca, a pasta dos dentes ganhara a consistência duma espuma leitosa; começou a pingar-me pelos cantos dos lábios. Cuspi-a.
Escova. Escova. Cospe.
Escova. Escova. Cospe.
Porque é que o meu pai nunca me ensinara a não coçar os tomates?
Porque é que o meu pai nunca me ensinara a lavar os dentes com espuma leitosa? Porque é que ele me educara como um autêntico animal? Porque é que todos os pobres têm de viver no meio de tanta imundície, de tanta fealdade?
Escova. Escova. Cospe.
Escova. Escova. Cospe.
Oxalá um homem pudesse cuspir o seu passado com a mesma facilidade.

Ele não é nenhum Gandhi, é apenas um ser humano como outro qualquer, como eu e o senhor. Mas está preso no Galinheiro.
A honestidade dos empregados é a base de toda a economia indiana.
O Grande Galinheiro Indiano. Terá a China alguma coisa que se assemelhe? Duvido, Sr. Jiabao. Se tivesse, não iria precisar do Partido Comunista para fuzilar as pessoas nem da polícia secreta para lhes invadir as casas a meio da noite e as levar para a cadeia, como eu ouvi dizer que aí fazem. Aqui, na Índia, não temos qualquer espécie de ditadura. Nem polícia secreta tão-pouco.
Basta-nos o galinheiro.
Nunca na história da humanidade tão poucos deveram tanto a tantos, Sr. Jiabao. Neste país, um punhado de indivíduos treinou os restantes 99,9 por cento - tão fortes, talentosos e inteligentes como eles em todos os aspectos - para uma existência condenada à servidão perpétua; uma servidão tão forte que podemos entregar a chave da emancipação nas mãos deste homem que ele no-la devolverá com uma imprecação.
Terá de vir até nós e ver com os seus próprios olhos para acreditar. Todos os dias, milhões de pessoas acordam de madrugada, enfiam-se em autocarros imundos e apinhados de gente, chegam às casa elegantes dos seus patrões, e limpam-lhes o chão, lavam-lhes a louça, tratam-lhes do jardim, alimentam-lhes os filhos, massajam-lhes os pés - tudo isto a troco dum salário de miséria. Nunca haverei de invejar os ricos da América ou da Inglaterra, Sr. Jiabao: lá, eles não têm criados. Nem sequer lhes passa pela cabeça o que é a boa vida.
Ora, um homem dado à reflexão como o senhor primeiro-ministro não pode deixar de fazer duas perguntas.
Porque motivo é que o Galinheiro funciona? Como é que consegue aprisionar tantos milhões de homens e de mulheres com tanta facilidade?
Em segundo lugar, será possível um homem escapar do Galinheiro? E se um dia, por exemplo, um motorista pegasse no dinheiro do patrão e fugisse com ele?
(...) a resposta à segunda pergunta é que apenas um homem que estiver preparado para assistir à destruição da sua família - perseguida, agredida e queimada viva pelos seus patrões - poderá libertar-se do galinheiro. Para isso, seria preciso não um ser humano normal, mas um pervertido, um aborto da natureza.

Recordei-me dum artigo da Murder Weekly, em que um homem que foi mandado para a prisão fingiu ter SIDA para que ninguém se atrevesse a enrabá-lo.

Há motoristas que têm técnicas para prolongar os casamentos dos patrões. um deles contou-me que sempre que os ânimos ficavam mais acesos, ele aumentava a velocidade, para que chegasse a casa mais depressa; sempre que lhes dava para ficarem românticos, ele diminuía o anadamento. Se começavam a gritar um com o outro, pedia-lhes indicações; se se beijassem, punha a música mais alta.

Quando a vida do patrão fica num caos, o mesmo acontece à do empregado.

Será que odiamos os nossos patrões por detrás duma fachada de amor... ou que os amamos por detrás duma fachada de ódio?

... sem uma família, um homem não é nada. Absolutamente nada.

"Não tem qualquer noção de provacidade. Nas aldeias não há quartos separados e, por isso, eles dormem todos uns por cima dos outros e fodem assim mesmo. (...)"

... não te ordeno que te cases. Mas tento-te com as delícias da vida de casado. É bom para a comunidade. Sempre que há um casamento, chove mais na aldeia. As búfalas-da-índia ficam mais gordas e dão mais leite. Isto são factos por demais conhecidos.

O juiz proferiu uma sentença que não agradou aos advogados, e eles simplesmente recusaram-se a acatá-la. Ficaram desvairados: arrastaram o juiz do seu lugar e deram-lhe uma sova, em pleno tribunal.

... se tiver alguma coisa a arder dentro de mim enquanto vou ao volante, a cidade irá descobrir, irá arder com a mesma intensidade.

Os sonhos dos ricos e os sonhos dos pobres - nunca coincidem, pois não?
Está a ver, os pobres toda a vida sonham em ter o suficiente para comer e em ficar parecidos com os ricos. E os ricos, com que é que sonham?
Com perder peso e ficar parecidos com os pobres.

Trepei para cima dela e, com uma mão, segurei-lhe os braços por detrás da cabeça. Chegara o momento de lhe enfiar o meu bico.

Para o diabo com a etiqueta... Cocei os tomates.

As doenças dos pobres nunca têm cura.

Um mendigo trazia outro às costas e ia passando dum carro ao outro; o que ia às cavalitas não tinha pernas abaixo dos joelhos.

Quando retemos sémen na parte inferior do corpo, isso provoca movimentos maléficos nos fluídos na parte superior do corpo.

... as mulheres já estavam à minha espera, tal como esperam por todos os homens, a todas as horas do dia.

Às vezes, contudo, acontece que o que de mais animal há num homem é o que de melhor ele tem.

... urdu, a língua dos muçulmanos - que é só pontos e rabiscos, como se um corvo tivesse molhado as patas em tinta preta e as tivesse pressionado contra a folha.

Senhor primeiro-ministro, não lhe estarei a dar nenhuma novidade se lhe disser que a história do mundo é a história duma guerra de dez mil anos entre os cérebros dos ricos e dos pobres. Cada facção está eternamente a tentar enganar a facção oposta; e assim tem sido desde o início dos tempos. Os pobres vencem meia dúzia de batalhas (as mijadelas nos vasos das plantas, os pontapés nos cães de estimação, etc.), mas está claro que há dez mil anos que os ricos têm a guerra ganha. É por isto que um dia, alguns homens sábios, movidos por compaixão aos pobres, lhes deixaram sinais e símbolos em poemas, que parecem versar sobre rosas, raparigas bonitas e coisas do género, mas quando compreendidos correctamente, revelam segredos que permitem ao homem mais pobre à face da terra interpretar a guerra de dez mil anos entre cérebros em termos que lhes são favoráveis.
Ora, os quatro maiores destes homens sábios foram Rumi, Iqbal, Mirza Ghalib e outro indivíduo cujo nome já me disseram, mas de que entretanto esqueci.

Ter um louco com intenções de sangue e rouba na cabeça, menos de meio metro à sua frente, e não saber. Não fazer a mais pálida ideia sequer. Ao ponto a que a cegueira das pessoas chega!estarmos ali, noites a fio sentados em edifícios de vidro e a falar ao telefone com americanos que se encontram a milhares de quilómetros de distância, mas não fazermos a mais pequena ideia do que se está a passar com o homem que nos guia o automóvel!

Até as baratas deviam estar a transpirar...

Não há água nas nossas torneiras e o que é que os senhores de Deli nos dão? Dão-nos telemóveis. Poderá um homem beber um telemóvel quando tem sede?

Não há nada que eu goste mais que ver um ricalhaço levar um enxerto. É melhor do que ter uma erecção.

Deixem que os animais vivam como animais; deixem que os seres humanos vivam como seres humanos.

Eu estava cego. Eu era um homem livre.

O sangue esvaía-se-lhe do pescoço com uma rapidez considerável - acho que é assim que os muçulmanos matam as galinhas.

... uma hora de respirações profundas e meditação logo pela manhã constitui o início perfeito para o dia...

... os pobres do Norte deste país bebem chá, e os pobres do Sul bebem café.

... ele permitiu que a sodomização fosse perfeitamente legal lá no país dele, e os homens andam a casar-se uns com os outros em lugar de se casarem com mulheres. Foi isto que ouvi na rádio. É isto que está a provocar o declínio do homem branco. Para além de que os brancos falam demasiado ao telemóvel, e isto está a dar-lhes cabo dos miolos. É um facto por demais conhecido. Os telemóveis provocam cancro no cérebro e atrofiam a masculinidade; os japoneses inventaram-nos para mirrar os cérebros e os tomates dos homens brancos, tudo de uma penada. Ouvi isto certa noite enquanto esperava pelo autocarro. Até então eu andara muito orgulhoso do meu Nokia e mostrava-o a todas as raparigas dos call-centers em que tinha esperança de vir a enfiar o meu bico, mas foi um ápice até o deitar fora.
Todos os telefonemas que me fazem chegam-me por cabo. Sei que me prejudica o negócio, mas o meu cérebro é demasiado precioso... é tudo com que um homem dado à reflexão pode contar neste mundo.
Os homens brancos estarão acabados ainda durante o meu tempo de vida. Também existem pretos e vermelhos, mas não faço a mais pequena ideia daquilo em que andarão metidos... dentro de vinte anos, seremos apenas só nós, homens amarelos e homens castanhos no alto da pirâmide, e daí haveremos de governar o mundo.
E que Deus nos salve a todos.

... aprendi a respeitar os muçulmanos... Eles podem não ser umas inteligências por aí além, à excepção daqueles quatro poetas, mas são bons motoristas e, na sua maioria, são uma gente honesta, pese embora uma meia dúzia pareça incapaz de resistir ao impulso de todos os anos mandar uns quantos comboios pelos ares.

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